quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Guia do vestibular para desesperados


Guias de vestibular costumam ter alguns problemas. Primeiro, são politicamente corretos. Segundo, não entregam tudo de mão beijada, exigem esforço e dedicação. São dicas para ajudar a estudar e se preparar, não para você não precisar estudar ou se preparar. E terceiro, não levam em consideração se você, prezado vestibulando, é meio burrinho mesmo, um caso sem solução. Aqui vão algumas dicas para você que está desesperado e acha que não tem a menor chance de passar numa prova; você que está com preguiça de estudar; você que ainda não decorou fórmulas; você que preferiu passar sua adolescência fornicando em vez de estudar; enfim, você que deixou tudo pra depois, e agora chegou o "depois".
Avisos prévios:a) Aos vestibulandos: passei por essa fase há seis anos, ou seja, algumas dicas podem não funcionar diante de regras recentes de vestibular. Afinal, por que diabos eu me atualizaria dessas regras? Entrar no site do Enem pra mim é igual a ir ao cinema para assistir ao filme dos Smurfs. Já passei dessa fase, não faz sentido voltar.
b) Aos pais, professores e pessoas que possam vir a reprovar as dicas dessa coluna: é tudo piadinha boba de um colunista bobinho, não levem nada em consideração.
c) Aos vestibulandos (2): levem em consideração. Por sua conta e risco, é claro.
Vou começar pelo que mais interessa, né? A cola. "Como é que eu vou colar no Enem, Matheus?" é o que deve estar passando na sua cabeça agora, caro vestibulando desesperado. Em primeiro lugar, esqueça a possibilidade de olhar a prova da pessoa ao lado. Se, no colégio, você sabia exatamente quem era o nerd, no vestibular está apenas numa sala com pessoas com o mesmo nome que o seu. Olhe ao seu redor. Olhe os políticos que elegemos, os filmes que fazem sucesso nas bilheterias, os programas de maior audiência na televisão. Qual a conclusão a que podemos chegar? Que as pessoas, em geral, não são muito brilhantes. Logo, não vale a pena colar de alguém que você não conhece. A chance de se dar mal é maior.
Exceção: se o seu nome for Thiago. A maioria dos Thiagos que eu conheço é inteligente. Talvez valha a pena colar de alguém se você cair em uma sala cheia de Thiagos. E não se sinta mal se for da minoria dos "Thiagos-não-tão-inteligentes", toda regra tem sua exceção. Você é especial.
Voltando ao assunto, se você quer colar de maneira segura, vai precisar de:
a) Se for homem
Caneta BIC e cueca branca.
b) Se for mulher
Caneta BIC e perna depilada.
A barreira que falta ser quebrada no campo da inspeção e da suspeita dos fiscais é a da intimidade pessoal. Então, abuse dela. Acredito que ainda seja possível ir ao banheiro durante a prova, certo? Moça, escreva nas coxas tudo o que você aprendeu na Megazine que possa ser útil na hora da prova. Rapaz, faça o mesmo na sua cueca branca. Fórmulas e anos principais da história são de fácil acesso.
Chegue à prova, leia todas as questões. Vá ao banheiro, olhe suas partes íntimas e veja qual daquelas coisas será importante para o que caiu na prova. Decore e volte com a cara de inocência de um gato indefeso tomando leite.
Para quem a maior preocupação for química:
a) Se for homem,
utilize uma cueca samba-canção e desenhe nela a tabela periódica.
b) Se for mulher,
roube uma calcinha da sua avó e faça o mesmo.
Agora, vamos falar um pouco sobre a redação. Uma coisa que pode acontecer, e é muito normal, é faltar um argumento bom o suficiente para segurar mais um parágrafo inteiro de texto. O que fazer? Escrever um parágrafo pequeno e mal escrito baseado em alguma argumentação que você sabe que é ruim? Escrever um parágrafo a menos? "Encher linguiça" com um acúmulo de palavras sem sentido que só vai entediar quem corrigir sua redação?
A resposta é "não". Você vai tentar fazer com que a pessoa que vai corrigir sua redação simpatize com você e fique com pena de lhe tirar pontos. Como? Há dois caminhos:
a) A comédia. Se você é engraçado, é seu momento de brilhar. O que todo julgador quer, ao final do dia, é ter uma boa história para contar para seus amigos julgadores no bar. Se a redação é sobre trabalho infantil, defenda-o com base nos trabalhos do Justin Bieber, do filho do Will Smith e, claro, do Michael Jackson na época do Jackson 5. Se for sobre hospitais superlotados, invente uma doença venérea leve e conte um "caso pessoal" envolvendo a dificuldade de ser atendido e você em pânico com uma "herpes fictícia" recém-descoberta. Aqui a burrice exagerada também conta ponto. Fale um absurdo tão grande que seja tiro certo de risada no julgador. No fundo, todo ser humano só quer duas coisas: rir e fazer sexo. Se você proporcionar uma dessas coisas a alguém, ele não vai querer lhe dar zero.
b) O drama. Acredito que as redações não cheguem à correção com o nome dos alunos, para prevenir favorecimentos. Logo, como são "anônimas", um drama pessoal pesado inventado pode ser útil. Se a redação é sobre prisões superlotadas, fale sobre seu pai que está preso desde a sua infância. Se tiver algo a ver com redes sociais, escreva que todos os dias você digita o nome do pai que o abandonou na infância no campo de busca do Facebook. Se for sobre homofobia, é o momento perfeito para você sair do armário. Aproveite o fato de que são humanos que corrigem as redações, não computadores, e apele.
Importante: outros gêneros podem não funcionar:
a) Terror. Ameaçar o julgador não é uma boa. O trabalho que teria para descobrir se o sujeito é maior que você supera o que teria simplesmente estudando.
b) Suspense. Fingir que sabe falar sobre o tema mas não escrever para causar mistério não leva a lugar algum.
c) Romance. Paquerar o julgador não faz sentido se você não acoplar uma foto 3x4 à redação.
Bom, agora, um pequeno guia de "auxílio ao chute". Chutar é saudável. Chutar é necessário. Chutar, às vezes, pode ser o único caminho. Mas vamos chutar com prudência, né?
Tudo escrito neste campo são teorias que não fazem o MENOR sentido. Mas você precisa se apegar a algo, e essas eram minhas crenças da época do vestibular:
a) Em história: sempre escolher a opção que contenha o segundo ano mais antigo.
b) Em matemática: nunca escolher nem o maior nem o menor número. E dar preferência aos números pares.
c) Em química: escolher a opção com a resposta "CO". Professores gostam de fingir que química é simples.
d) Em geografia: naquelas questões em que você tem de escolher quais das afirmativas são verdadeiras ou falsas, tente imaginar o William Bonner narrando cada uma delas no "JN". Se ele conseguir falar uma coisa na qual você levemente não acredite é porque é extremamente falsa.
e) Em física: Pense em qual opção você acha que é certa. Não a escolha. Pense na segunda mais provável. Não escolha também. Elimine a que seja menos provável, claro, e decida entre as duas intermediárias.
Para encerrar, algumas dicas gerais:
a) Preparação. Não adianta estudar que nem um louco na véspera, a vida é cruel. Sempre vai cair algo que você não estudou, nunca ouviu falar ou simplesmente não lembra. Meu conselho: na noite anterior, durma sete horas e meia (com mais meia hora regulando o modo "soneca"). É o tempo perfeito para estar descansado o suficiente sem também estar "morgado" de tanto dormir.
b) Concorrência. Seus companheiros de sala são seus inimigos. Leve comida e mastigue alto (Fandangos funcionam bem). Escreva colas erradas na mesa e as deixe visíveis. Assoe o nariz mais do que precisa. Quanto mais pessoas você desconcentrar, menos degraus vai precisar subir para alcançar uma bolsa na faculdade que deseja.
c) Expectativa. Acabe com a esperança e expectativa dos seus pais e todos que se importam com você. Quando chegar da prova, diga que foi terrível, independentemente de como se saiu. Antecipe a bronca e a decepção. Convença-se de que foi tudo uma tragédia. Quando chegar o resultado, se for ruim, ninguém vai ligar, todos já sabiam. Se for bom, você prova pra humanidade que é bom até quando acha que foi mal e pode acabar ganhando um carro.
Bom, é isso. Espero que minhas dicas ajudem. Caso nada disso dê certo e você não entre na faculdade, pense pelo lado positivo. Um conhecido de um amigo meu sofreu um acidente pouco depois de ter prestado o vestibular e veio a falecer. O nome dele acabou aparecendo na lista de aprovados para uma faculdade pública. O seu não. Mas, pelo menos, você ainda pode tomar sorvete e ir ao cinema. A vida é assim. Aproveite.
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